DISCURSO DE DESPEDIDA DO PRESIDENTE ALBERSIO

(DISCURSO NA ÍNTEGRA)

Parafraseando meu saudoso Pai no seu discurso de posse na Presidência do Egrégio Tribunal de Justiça do Ceará, irei dirigir minhas primeiras palavras a Deus, Senhor do Universo e de todos Nós. Palavras de Agradecimento e de adoração. Foi Deus quem me deu forças, coragem, saúde e disposição para conduzir a Academia nos últimos oito anos. Rendo, pois essa Homenagem de reconhecimento e de gratidão a DEUS pelos Bens que hei recebido de suas mãos dadivosas!

Saudação as Autoridades presentes,

Senhoras & Senhores

Confrades & Confreiras,

Irei iniciar lembrando a Reunião do dia 25 de Janeiro de 2016, convocada para eleger o novo presidente da Academia. Havia rumores, do próprio Saudoso Zé Gerardo de que eu seria o escolhido para a Presidência. O Presidente Jader abriu a Reunião, informando que estávamos ali reunidos para proceder à escolha do novo Presidente e solicitou a manifestação dos presentes. Olhei para um lado e para o outro e fiquei aguardando alguma manifestação, quando nosso sempre presente Prof. Albuquerque, usou da palavra e disse que gostaria de indicar um Jovem muito dedicado, etc, etc.., indicando meu nome. Fiquei alegre e satisfeito, sobretudo pelo Jovem. Agradeci e disse que seria uma honra assumir a Presidência. Todos aplaudiram e, assim, eu estava eleito e empossado Presidente da Academia. Era assim naquela época e em seguida fizemos a composição da Diretoria. Ao sair daquela Reunião, me senti um pouco atordoado, sobretudo após receber do nosso saudoso Zé Gerardo uma caixa de plástico com livros de Atas e um CD informando que ali estava todo o acervo Patrimonial da Academia. Por tal razão, logo que possível, promovi mudanças no Estatuto referente à eleição do Presidente.

Foram muitas as reflexões durante os dias que se seguiram, envolvendo, sobretudo, alguns aspectos da minha carreira como cientista, nunca antes revelados os quais gostaria de fazê-lo naquela Solenidade. Fui o primeiro professor universitário brasileiro a concluir o PhD em Virologia Vegetal em Universidade Americana. Embora existisse em São Paulo o maior Grupo de Virologia Vegetal da América Latina, nenhum dos 8 membros havia cursado Doutorado fora do Brasil. O Grupo era liderado pelo cientista Álvaro Santos Costa, que embora casado com uma americana, não permitia que seus liderados realizassem MS ou PhD nos Estados Unidos (Confidências de um dos membros). Conheci e mantive relacionamento profissional com o Dr. Álvaro.

Por conta disso, Geraldo Martins Chaves, Prof. de Viçosa, em MG, à época Presidente da Sociedade Brasileira de Fitopatologia, me convidou para proferir a Conferência de abertura do Congresso Brasileiro de Fitopatologia de 1978, ano que concluía o PhD na Flórida. Vim com a esposa e o filho direto de Gainesville para o Rio de Janeiro e de lá fui de carro para Viçosa. A palestra foi um sucesso, confesso que me senti um pop star da Ciência. Todos queriam fazer perguntas, conversar e inclusive, os jovens pediam para tirar fotos.

Retornei ao Ceará e aqui, após quatro anos de ausência procurei me adaptar, mas me sentia um pouco frustrado por conta do baixo salário à época e por não ter condições de aplicar meus conhecimentos no ensino e na orientação científica de estudantes. Não tínhamos curso de pós-graduação na área. Procurei me adaptar, envolvendo-me em Convênios de Assistência Fitossanitária aos Perímetros Irrigados do DNOCS e encaminhei solicitação de bolsa ao CNPq.

Pouco tempo se passou, quando recebi um telefonema do Prof. Chaves de Viçosa me convidando para uma vaga de Professor Visitante na pós-graduação por seis meses. Informei ao Diretor do CCA, Professor Albuquerque (ele novamente, ou antes), e ele disse, peça um Convite Oficial por escrito. Com o convite oficial fui liberado e rumei para Viçosa. Isso era o primeiro semestre de 1979. Foi um período de excelência na minha vida acadêmica. Eram mais de 15 estudantes de pós-graduação Mestrado e Doutorado, inclusive argentinos. Senti-me realizado. Organizei o Laboratório de Virologia Vegetal, as estufas, com isolamento e purificação de vírus e até produção de antissoros específicos. Havia disponibilidade de recursos da Finep. O irmão do Prof. Chaves era o Presidente da Finep à época.

Próximo à conclusão do Semestre letivo, Prof. Chaves me chama ao seu gabinete e diz: Albersio, estou muito satisfeito com seu desempenho e tenho uma vaga de Professor Adjunto para você. Eu argumentei, Professor eu sou professor da UFC. Ele logo replicou, não se preocupe, disso cuido eu. Eu serei o próximo Reitor, como de fato foi. Eu ainda ponderei, minha esposa fez biblioteconomia na Flórida e está pleiteando uma vaga na UFC. Ele disse, eu consigo uma vaga para ela na biblioteca daqui. Eu havia usado bastante a Biblioteca de lá e quase respondo, vou ficar logo aqui. Mas voltei pra cá e fiquei conversando com a família, sem levar o problema para a UFC. Não me sentia confortável. De repente, acredito muito no Nosso Deus, recebi um chamado, meu pedido de bolsa do CNPq havia sido aprovado. Pesquisador 1B. Naquela época, talvez o Arraes lembre-se disso, as bolsas do CNPq eram em função dos salários de Viçosa e de Brasília, com a complementação salarial. Pesquisador 1B correspondia ao salário do Prof. Adjunto. Não existiria mais diferenciação salarial, o CNPq iria complementar meu salário, o que influenciou minha tomada de decisão.

As portas do CNPq estavam abertas. No meu pedido de renovação da Bolsa em 1984, meu Nível passou para 1A e nele fui mantido até me afastar da UFC, em 2015. Fui membro do Comitê Assessor de Agronomia por três mandatos, não consecutivos, colocando-me no epicentro das decisões sobre avaliação de projetos e de bolsas do CNPq.

Foi criado um Programa Setorial de Virologia Vegetal na Finep, com vistas a incentivar a pesquisa científica na área. Fui contemplado com apoio de R$800.000,00 para construção de um Laboratório de Virologia Vegetal na UFC. O Laboratório dispunha de uma excelente infraestrutura para pesquisas com vírus de plantas, constituindo-se em Laboratório de referência para o Norte e o Nordeste do Brasil. O mais bem equipado da Região. Possuía uma equipe flutuante de 8 a 10 pesquisadores, bolsistas em todos os níveis, atendendo, inclusive, a consultas de pequenos e médios produtores agrícolas, bem como Empresas Agropecuárias dos Estados da Região. Aqui volto ao problema da nossa Academia. Após conseguir tudo isso como Líder único, não iria ser problema trabalhar junto a um seleto Grupo de Cientistas Cearenses das diferentes áreas do conhecimento científico. Consultei a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e verifiquei que os recursos para apoio de suas ações não eram provenientes dos seus membros, mas sim de algumas Empresas e, sobretudo de Fundações de Amparo à pesquisa, tais como: FAPERJ, FAPESP, FAPEMIG, e inclusive FUNCAP. Fomos atrás do Setor Empresarial da Região, mas embora com apoio esporádico, não conseguimos sucesso. Procuramos então a FUNCAP e após ajustes no Estatuto da Academia, conseguimos o apoio procurado como nosso Primeiro Membro Institucional, abrindo caminho para outros, inclusive UFC, UECE, UNIFOR, BNB, que hão de vir com a nova e entusiástica Diretoria que hoje assumi o Comando da nossa Academia. Percebemos que a Academia necessitava crescer, também em número. Aprovamos em Assembleia o aumento do número de vagas para 50, as quais podem chegar a 100 ao longo dos anos.


Promovemos o crescimento da Academia, com a seleção de 28 novos Membros, aumentando também o número de mulheres, passando de seis (6) em 2016 para um total de 16. O crescimento no número de mulheres foi espontâneo, sem nenhuma medida indutora, mas sempre preservando a qualidade científica, demonstrando o elevado nível científico das mulheres cearenses.


Por haver sido Editor Científico durante seis anos de uma Revista internacional – Tropical Plant Pathology, tendo como colaboradora Ana Claudia Miranda, minha ex-aluna de graduação e de pós-graduação, criamos ainda em 2017, a Revista ANAIS da Academia Cearense de Ciências, hoje no seu Sétimo volume. Peço então, encarecidamente, ao nosso Confrade Aldo Ângelo, que hoje assume a Diretoria Científica da nossa Academia, que preserve este periódico científico. Publicações na Revista da Academia não irão assegurar a preservação das Bolsas do CNPq, mas a engrandecerão, tornando-a um dia, quem sabe, um periódico de renome.

Dos 13 Membros que hoje tomam posse na Diretoria, 11 foram selecionados com minha participação direta ou indireta, o que me deixa honrado e repleto de alegria. Como último Ato na função de Presidente, terei a honra de dar posse a uma nova e entusiástica Diretoria, entregando ao novo Presidente, nossa Academia com um acervo patrimonial, que precisará ser conduzido de carro para sua nova Sede, com perspectiva de crescimento.

Muito obrigado a todos e a todas.